Em 1978 a China adotou sua famosa e radical política oficial de Controle de Natalidade, aquela que se tornou mundialmente como a Lei do filho [a] Único. Cada casal somente pode ter um filho e para garantir que a lei não fosse burlada foi posta em ação a engrenagem policial dos comitês de bairro, que vigiam todas as grávidas ou suspeitas de estarem grávidas. Se a gravidez for irregular, se o casal já tem um descendente, os oficiais de planejamento familiar podem obrigar as gestantes a fazer o aborto e se submeter à esterilização para que a infração não se repita. As que não infrigiram a lei, ainda, e usam métodos contraceptivos são monitoradas no uso de tais métodos para evitar falhas.
Todavia, o governo precisou ser maleável em algumas regiões por causa de tradições familiares muito antigas e enraizadas. No campo, nas vastas zonas rurais da China, os casais cujo primeiro filho é mulher são autorizados a tentar uma segunda vez na esperança de obter um varão, posto que é dever dos filhos homens cuidar dos pais na velhice. Por outro lado, cidadãos ricos, camada social que está aumentando, pagam multa mas dão-se ao luxo de ter seu segundo filho ou mais.
Mas, fora as exceções, quem não cumpre a lei está sujeito a duras penalidades. Os trabalhadores de empresas estatais podem perder seus empregos. Outros, além de ter pagar alta multapodem ,ainda, perder suas casas ou mesmo ir para a prisão.
Apesar dos rigores da lei, muitos transgridem. O senhor Fu Yang, 47 anos, da cidade de Xiamen, confessa; Eu sou o maior transgressor da política do filho único. Nos últimos 10 anos eu tive sete filhas. A família, que hoje tem uma vida próspera, no passado, teve de fugir de três províncias e esconder os filhos com amigos.
Não é uma proeza fácil e exige uma certa dose de costas quentes, isto é, bons contatos em termos de poder político. Mesmo em Xiamen e Fu Yang passou por momentos complicados: Quando eles [as autoriades de Xiamen] descobriram que eu tinha sete filhas tentaram derrubar minha casa mas felizmente tenho boas ligações. Meu tio é chefe da aldeia. Também queriam me multar em 600 mil yuan [cerca de 60 mil reais]. Eu me recusei a pagar. No fim eles derrubaram apenas uma pequena parte de minha antiga casa e eu paguei somente 2 mil yuan. Na aldeia de Fu Yang muitos outros casais têm mais de um filho.
De acordo com o demógrafo e ex-membro do comitê especial da Chinas's National Population and Family Planning Commission, Liang Zhongtang, o exame comparado dos valores obtidos pelo censo provam que a lei é burlada e o quando pode ser burlada. Em 1990, naquele ano, o censo registrou 23 milhões de nascimentos. Mas no censo do ano 2000 havia 23 milhões de crianças com 10 anos de idade. Uma diferença de 3 milhões. Considerando que nem todos os naciturnos de 1990 tenham sobrevivido até o ano 2000, as crianças clandestinas são ainda mais numerosas.
Como já é amplamente sabido, essa política do filho único não funcionou plenamente e ainda criou um problema não pensado pelos gênios do comunismo chinês que não consideraram em suas equações a força das tradições familiares chinesas. O filho homem, o primeiro, ainda que não seja primogênito, é o responsável pela guarda dos pais na velhice. Por isso, uma das mais terríveis conquências dessa equivocada política demográfica foi o extermínio de primogênitos mulheres. O nascimento das meninas passou a ser a promessa de um futuro de solidão e desamparo na velhice, uma frustração.[Porque as filhas, quando casam, passam a ser filhas da família do marido]. Essas meninas, bebês, passaram a ser malquistas. Eram e, possivelmente, ainda são, abandonadas ou assassinadas ao nascer.
Além disso, a política do filho único gerou um excesso de varões sem candidatas a esposas disponíveis para todos. Em 2020, haverá um excesso de 30 milhões de homens chineses em relação ao cada vez mais reduzido número de mulheres. Ironicamente, a situação só não é pior por causa da audácia de transgressores como Fu Yang. Como ele, muitas famílias aceitam e mantêm suas meninas em segredo. Elas não são registradas nos órgãos oficiais e só começam a aparecer como cidadãs quando já estão com 7 ou 8 anos. É como se a transgressão prescrevesse porque, nesses casos, as autoridades fazem vistas grossas.
FONTE: MOORE, Malcolm. Chinese hiding three million babies a year.
IN Telegraph, UK – publicado em 30/05/2010
[http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/asia/china/7787661/Chinese-hiding-three-million-babies-a-year.html]
IN Telegraph, UK – publicado em 30/05/2010
[http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/asia/china/7787661/Chinese-hiding-three-million-babies-a-year.html]
Nenhum comentário:
Postar um comentário