CAPTORES DE ALMAS: A crença em algo que sobrevive à morte física do ser humano é uma tradição cuja origem se perde nas Eras mais recuadas da história.
É uma crença compartilhada por todas culturas de todos os povos do mundo. Esse algo [ou, melhor, esse alguém] que sobrevive à falência da carne é chamado espírito, alma e entendido como verdadeira essência, verdadeiro Ser, da entidade humana.
A partir de meados do segundo milênio d.C., [período da Renascença seguido da Idade Moderna e do posterior Iluminismo] com a advento dos avanços das ciências e técnicas associadas, como Anatomia, Física, Química, a investigação sobre a alma ganhou novos instrumentos.
Em 1854, o anatomista alemão Rudolph Wagner [1805-1864] sugeriu a existência de uma substância especial, anímica, que poderia ser identificada através da pesquisa científica.
Wagner foi ridicularizado e seu rival acadêmico, Ernst Haeckel [1834-1919] sugeriu que ele [Wagner] deveria tentar liquefazer a alma [já que era uma substância] e congelar para poder exibi-la em uma garrafa.
A natureza da alma humana foi um assunto muito discutido nos meios intelectuais da era Vitoriana*, especialmente entre grupos dedicados à investigação do mente. Muitos desses entusiastas eram cientistas renomados.
Muitas conclusões filosóficas foram formuladas mas nada foi obtido em termos de evidências objetivas. Era um beco sem saída: como provar a existência da alma e suas propriedades físicas ou metafísicas?
* ERA VITORIANA: Período de reinado da rainha Vitória, do Reino Unido, meados do século XIX [anos 1800], entre 1837 e 1901
Em 1886, o Dr. Duncan MacDougall [1866-1920], um cirurgião de Massachusetts, teve uma idéia: talvez fosse possível usar uma balança de precisão para pesar um homem à beira da morte e comparar os resultados, a diferença de peso antes e depois do óbito.
MacDougall pretendia descobrir se alguma coisa desprendia-se do corpo no momento da morte. Se tal ocorresse, haveria diminuição de peso e a diferença seria o peso da alma.
MacDougall, membro da Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas, era fascinado com a idéia da personalidade sobreviver à morte.
Uma das questões que intrigava o cientista era a localização da alma em relação ao corpo. Ele achava impensável que essa misteriosa energia que vivifica o ser humano não ocupasse nenhum espaço na esfera da matéria física corporal.
Isso parecia-lhe evidente posto que aquilo que anima o ser vivo parece abandoná-lo no momento de sua morte.
MacDougall cogitou, então, que a alma deveria, sim, ser um tipo de matéria dotada de alguma massa mensurável e por via desse raciocínio concebeu o experimento de pesagem dessa misteriosa matéria vivificante.
A BALANÇA DOS MORIBUNDOS
Em 1901, MacDougall adaptou a estrutura de uma balança industrial de grande precisão. A balança era sensível a diferenças de 5 gramas.
De um lado, uma cama de hospital também adaptada para ser o mais leve possível; do outro lado da balança, pesos individuais que poderiam ser adicionados ou removidos de modo a precisar qualquer diferença de massa.
O equipamento foi instalado no hospital e o cirurgião recrutou seus voluntários: entre pacientes terminais.
Em 10 de abril de 1901, a oportunidade chegou: as 5:30 da manhã um moribundo que sofria de tuberculose foi colocado na balança das almas.
O experimento foi observado por quatro pessoas incluindo o Dr. MacDougall. O paciente, exaurido pela doença, estava calmo. Qualquer alteração de peso era anotada.
E houve alterações, acompanhadas e analisadas. Ao longo de três horas, registrou-se uma diminuição pequena mas constante do peso do homem, que foi atribuída à perda de água via transpiração e subseqüente evaporação do líquido. As 9 horas, o paciente piorou e morreu em poucos minutos.
MacDougall relata o que foi verificado: A vida deixou-o de imediato e balança imediatamente acusou uma queda de peso abrupta, como se algo tivesse saído do corpo. Não era muita coisa, mas era alguma coisa: 21 gramas.
21 GRAMAS
Dr. Duncan MacDougall. Haverhill Public Library, Massachussets
Evidentemente, como cientista, MacDougall ficou animado com aquele resultado porém, longe de satisfeito. Afinal, era somente a primeira experiência e era necessário explorar todas as explicações possíveis para a aquela perda de 21 gramas. Aquele primeiro moribundo foi minuciosamente analisado.
O homem não defecara na hora da morte, Tinha urinado mas toda a urina que saíra do corpo permanecera na cama hospitalar absorvida por toalhas de papel previamente colocadas e, portanto, inclusas na conta do peso antes do óbito. Também a relevância da respiração foi testada em experimentos posteriores e constatou-se que não influenciava a diferença de peso.
Em novembro daquele ano [1901] MacDougall teve a oportunidade de testar sua balança dos moribundos em outro paciente.
Também este era homem e sofria de tuberculose. Um quadro aparentemente semelhante ao do primeiro paciente.
Com o homem na balança, as medições foram feitas durante quatro horas e quinze minutos. Neste ponto, o homem parou de respirar mas seu rosto continuou a se contorcer por 15 minutos.
MacDougall relatou: Coincidindo com o último movimento facial, o ponteiro [da balança] caiu. A perda de peso registrada: meia onça, ou seja 15,5 gramas.
Novamente, MacDougall tentou explicar a diferença em termos convencionais mas não teve êxito. Não foi possível explicar onde foram parar as 15 gramas e meia. MacDougall começava a se permitir considerar a real possibilidade de que algum tipo matéria, uma alma!? deixava o corpo depois da morte.
Entre janeiro e maio de 1902, outros dois moribundos foram testados em condições ideais. Nos dois casos, verificaram-se perdas de 10 e 14 gramas no momento da morte.
A essa altura, o assunto tornado público, causava polêmica e havia aqueles que se oponham às experiências, e outros tantos que exigiam monitorar as pesagens.
A pesquisa de MacDougall interessou ao presidente da Sociedade Americana de Pesquisas Psíquicas, Dr. Richard Hodgson contudo havia uma certa relutância por conta do temor de que no fim outros pesquisadores tratar-se tudo de uma grande fraude ou de algum erro grosseiro de método.
MacDougall, persistente, continuou sua pesquisa e repetiu a experiência utilizando 15 cães. Os cães foram anestesiados antes de serem colocados no prato [leito] da balança na balança. A seguir, foram mortos.
Ao contrário do que acontecia com os seres humanos, nenhuma perda de peso foi registrada no momento das mortes. MacDougall concluiu que o fenômeno de perda de peso na hora morte era exclusivamente humano. Isso poderia, simplesmente, significar, que o homem detinha em si, quando vivo, alguma matéria-energia que os animais não possuíam.
* [Imagine-se que o resultado da experiência fosse o contrário. Seria o escândalo das provas e contraprovas de que os animais têm alma. Eis porque pesquisas como as de MacDougall assustavam certos ideólogos, especialmente os religiosos e donos de açougues, ahn?!... Afinal, o exame acurado desse tipo de questão poderia, conforme seus resultados, transformar inocentes pecuaristas e comerciantes em assassinos de criaturas dotadas de alma. Meditemos...]
A essa altura, era notório que as experiências do Dr. MacDougall não agradavam a seus superiores no Hospital que, finalmente, proibiram as atividades do cientista.
Ele se calou e e parou de divulgar suas descobertas ou atividades durante alguns anos. Reapareceu 11 de março de 1907 com um longo artigo no New York Times.
A publicação despertou imediata polêmica. Os céticos oferecendo explicações racionais; os simpatizantes acrescentando suas próprias teorias e relatos. Foi um clamor público.
MacDougall escreveu, então, outro artigo que foi publicado simultaneamente na prestigiada revista científica American Medicine e no Journal of American Society for Physical Research.
Nesse segundo texto, reapresentou suas provas e foi mais explícito em sua conjectura sobre definição do peso, obtida nas experiências, como prova da existência da alma. Foi mais além: afirmava, pois era evidente, que a substância da alma era mais leve que o ar.
Embora a discussão não tenha progredido em termos práticos a idéia de que um cientista tinha pesado alma era fascinante, irresistível ao desejo individual e coletivo de ter a certeza da imortalidade humana.
Mais tarde, o trabalho de MacDougall inspirou o poema de Laura Gilpen, O Peso de Uma Alma e, em 2003, o filme 21 Gramas.
O INSISTENTE MISTÉRIO DO MOMENTO DA MORTE
Meister von Heiligenkreuz, 1425
Um moribundo entrega sua alma a Deus
MacDougall não deixou seus relatórios disponíveis para a consulta mas a correspondência trocada com Richard Hodgson contêm informações sobre a pesquisa, como a descrição completa dos métodos, os resultados e as circunstâncias de experiências com seis pacientes.
Nas cartas, MacDougall deixa claro que, com exceção do primeiro paciente, todos os outros experimentos apresentaram problemas.
O paciente dois, como mencionado acima, apesar de clinicamente morto, demorou 15 minutos com espasmos na face gerando dúvida sobre o momento do óbito.
O paciente três também apresentou um fator de incerteza e oscilação incerta do marcador da balança porque, na verdade, não foi possível determinar o momento exato em que o coração cessou sua pulsação. Situação similar aconteceu com o paciente seis.
* Essas incertezas nas experiências de MacDougall parecem indicar que morte é um processo que avança aos poucos e quase nunca de um só golpe. Para os tibetanos, pode-se morrer em uma fração de segundo, pode-se morrer por vontade própria ou ficar morrendo durante dias até o desprendimento, separação completa entre o Espírito de sua vestimenta carnal. A experiência da morte não é igual para todo mundo.
Apesar daqueles resultados inconsistentes, MacDougall teve seus seguidores, que repetiram seus experimentos em busca de uma resposta definitiva sobre o peso da alma. Em 1915, H. Twining matou 30 ratos ao mesmo tempo, usando diferentes métodos de matar, em sua própria balança dos moribundos.
Não foi detectada nenhuma alteração no peso das cobaias. Outro pesquisador, Lewis Holander, sacrificou na balança sete carneiros, um por vez e constatou variações de peso extremas: de 18 a 780 gramas.
FOTOGRAFIA DA ALMA
Em 1910, Walter Kilner, técnico do Hospital Saint Thomas, Londres, anunciou que tinha criado um conjunto de lentes que permitia observar o Duplo Etérico, a alma. No ano seguinte, com o apoio do especialista em raios X, Patrick O'Donnell, Kilner teve permissão de observar um moribundo, usando suas lentes, no Hospital de Misericórdia.
O'Donnell registrou o que foi observado: O médico responsável anunciou que o homem estava morto. A Aura começou a se espalhar no corpo e desapareceu. Na observação do cadáver não mais havia qualquer sinal de Aura.
Em suas conclusões, O'Donnell evitou, como a maior parte dos cientistas, a palavra alma e sugeriu:
...uma forma de radioatividade que se torna visível em virtude das lentes... Minhas experiências, no entanto, parecem provar que ISTO [a aura, a radiação] é um poder de animação ou corrente de vida dos seres humanos.
Na imprensa os fatos eram distorcidos, exagerados. Dizia-se que havia uma disputa entre O'Donnell e Duncan MacDogall. Ambos queriam ser os primeiros a fotografar a alma humana! Anunciou-se, até, que tais fotografias já existiam. Todos queriam ver uma imagem da corrente da vida, do último suspiro. O nome de Walter Kilner, foi completamente esquecido nos noticiários.
Um periódico alegava ter entrevistado MacDougall. O cirurgião irritou-se, negou e escreveu ao jornal:
Eu não estou prestes a realizar experimentos para a obtenção de imagens da alma humana. [A alma humana é]... substancial e ocupa espaço [mas]... não pode ser objeto de fotografia porque seu índice de refração [da luz] é idêntico àquele do éter...
FONTE: CHAMBERS, Paul. Soul Catcher:
The strange deathbed experiment of Dr MacDougall.
IN Fortean Times, maio de 2010.
http://www.forteantimes.com/features/articles/3445/soul_catcher.html