LONDRES/MUNDO. O desempenho surpreendente da nadadora chinesa Ye Shiwen, 16 anos - nos Jogos Olímpicos, em Londres (quebrou recordes mundiais nas categorias 200 e 400 m medley), está gerando especulações que vão além da costumeira suspeita de dopping. Especialistas em atletismo e esportes estão falando em melhoramento genético dos atletas.
O diretor da respeitada World Swimming Coaches Association, John Leonard, descreveu o desempenho de Shiwen como ...suspeito, perturbador, inacreditável... Leonard acha que os peritos que realizaram testes na nadadora para averiguar a possibilidade de uso de drogas também deveriam verificar ...Se há algo incomum acontecendo em termos de manipulação genética.
O funcionário do comitê anti-dopping da China, Jiang Zhixue, considerou as cogitações de Leonard como ...completamente irracionais.
Todavia, há trabalhos científicos publicados sobre o assunto, como o livro Atletas geneticamente modificados: ética biomédica, doping genético e esportes (2004) - do pesquisador escocês Andy Miah, PhD em bioética e especialista em Direito Médico (http://www.andymiah.net/).
Se for confirmada a manipulação genética, os Jogos de Londres seriam os primeiros em que atletas teriam sido programados, antes mesmo de nascer, para possuir resistência de tendões, força muscular e capacidade de oxigenação do sangue, por exemplo, aumentadas.
O presidente do painel do Grupo da World Anti-Doping Agency, Dr. Ted Friedmann disse que ...Não ficaria surpreso se as melhorias genéticas estivessem sendo secretamente usadas por alguns concorrentes. Friedmann tem trabalhado na pesquisa sobre como descobrir manipulações dessa natureza.
RATOS
Experimentos de laboratório já demonstraram que pode ser feito. Em 2005, o especialista em hormônios do Salk Institute of Biological Studies, em La Jolla - Califórnia, demonstrou como a modificação genética pode aumentar a potência atlética em ratos.
Evans criou uma geração de camundogos geneticamente modificados: eles tinham uma capacidade superior de contração das fibras musculares. Este tipo de capacidade está associada à força dos músculos, inclusive os cardiovasculares, tornando o atleta (no caso - o rato) mais resistente.
A maioria das técnicas de modificação dos genes envolve a introdução de DNA modificado no interior de um vírus que é, por sua vez, injetado no corpo humano. Uma vez dentro das células do organisamo receptor, um rato ou um ser humano, o vírus, que age no núcleo celular, transmite sua mutação para o DNA do hospedeiro que, a partir de então, passa a reproduzir a mutação que vai se manifestar em configurações anatômicas e metabólicas do indivíduo geneticamente modificado.
SUPER-HUMANOS
A modificação genetica de atletas poderia criar competidores super-humanos, com hemoglobina - células vermelhas do sangue - capazes de transportar mais oxigênio, capacidade de desenvolvimento muscular aumentada e alteração na produção de hormônios que influenciam o desempenho dos atletas.
Todavia, em um indivíduo assim, os testes anti-doping comuns não encontrariam nenhuma substância estimulante no sangue e tudo o quê se poderia dizer é que tal atleta é extraordinário.
Significa que a ciência da detecção desse tipo de alteração, embora já possa ser feita, não chegou aos laboratórios dos peritos de análises dos comitês olímpicos. Não existem testes genéticos para atletas. A medicina do atletismo está atrasada em termos de ciência genética.
CORRENDO ATRÁS DOS VIRUS
Porém, os líderes organizadores das Olimpíadas acreditam que em breve serão capazes de detectar o quê está sendo chamado de fraude genética.
O diretor médico do Comitê Olímpico Internacional (COI), Patrick Schamasch, diz que os vírus usados para modificar o DNA humano ainda deixam rastros que poderão ser detectados. Mas essa possibilidade não deve durar muito tempo: Tenho certeza de que certos vírus - que não deixarão traços serão inventados, comentou Schamasch.
Enquanto isso, os organizadores de Jogos, olímpicos ou não, estão apostando no recém-introduzido "passaporte biológico" - que contém um registro do perfil fisiológico do atleta e serve como parâmetro de comparação caso ocorra alguma mudança fora do comum nos níveis hormonais de cada indivíduo.
TENTANDO EVITAR O INEVITÁVEL
Evidentemente, esse sistema nasceu superado porque a tendência é que os super-atletas sejam programados antes mesmo de nascer e, em países como a China - onde a bioética tem limites extremamente elásticos e o interesse em manter a população fortemente motivada em termos de paixão nacionalista - um elemento notavelmente influenciado por competições esportivas, isso - a programação pré-natal de atletas, pode estar já estar acontecendo.
E... se ainda não está acontecendo, seria uma ingenuidade pensar que não vai acontecer. Porque se as pesquisas nesse sentido estão sendo feitas em ratos; e se essas pesquisas receberam significativas verbas para serem realizadas, evidentemente, todo esse tempo e dinheiro não está sendo gasto por mera curiosidade acadêmica.
Possivelmente, no futuro, a questão não será se o atleta foi geneticamente modificado mas, que nação possui atletas que são geneticamente melhores por serem geneticamente mais eficientemente modificados. Meditemos...
FONTE: NAISH, John. Genetically modified athletes: Forget drugs. There are even suggestions some Chinese athletes' genes are altered to make them stronger.
DAILY MAIL, publicado em 01/08/2012.
[http://www.dailymail.co.uk/news/article-2181873/Genetically-modified-athletes-Forget-drugs-There-suggestions-Chinese-athletes-genes-altered-make-stronger.html]