Crianças de Hitler Encontram-se na Alemanha
Hans-Ulrich Wesh: foto do passado em um Lar Lebensborn
Um grupo de ex-internos e adotados do programa Lebensborn, uma espécie de criatório-berçário da Raça Ariana. encontraram-se pela primeira vez em novembro de 2006 na cidade alemã de Werningerode. O propósito da reunião foi discutir o trauma de suas origens.
O projeto Lebensborn, expressão que significa Fonte de Vida, foi criado sob a coordenação de Heinrich Himmler em 1935 com o objetivo de gerar, o mais rápido possível, uma linhagem de cidadãos germânicos arianos puros.
Os Lares Lebensborn foram instalados em vários países europeus. Milhares de crianças com características físicas nórdicas foram adotadas de forma ilegal por famílias alemãs escolhidas pelas SS ─ Schutzstaffel, Tropas de Proteção, também sob o comando de Himmler.
Um centro Lebensborn
As crianças eram cuidadosamente selecionadas. O critério era possuir um biótipo perfeitamente ariano. A pele branca, os cabelos louros, os olhos azuis, genitores, pais biológicos arianos e altos. Muitas foram adotadas por membros das SS.
Durante anos aquelas crianças nada souberam sobre seu passado e as que sabiam, envergonhavam-se de comentar em público.
O líder do grupo de ex-Lebensborn esperava que o encontro servisse para esclarecer os mitos que cercam este episódio da Segunda Guerra; como a idéia de que os Lares Lebensborn eram como fazendas que nas quais se reuniam, consensualmente, famílias legítimas com seus filhos, todos arianos.
Ao contrário, muitas crianças foram seqüestradas; outras foram o resultado da violência sexual. Folker Heinicke, 66 anos [em 2006], que vivia com os pais na Ucrânia, foi seqüestrado e entregue a uma família alemã. Ele revela: "Havia sempre uma sensação de que alguma coisa estava errada".
Fonte: Nazi master race children meet
In BBC News ─ publicado em 04/12/2006
<http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/6117744.stm>
LEBENSBORN, O TRAUMA
Lebensborn ─ Wernigerode: a médica, o administrador e as crianças
Para crianças do programa nazista Lebensborn, de reprodução da raça ariana, a master race, o inferno da Segunda Guerra não acabou.
Hoje adultos, senhores e senhoras de meia idade, idosos mesmo, ainda sofrem com a perda de suas identidades e com a lembrança de uma vida traumatizada pela vergonha e alienação.
Em novembro de 2006 um grupo deles passou um fim de semana em Wernigerode, local onde outrora foi instalada uma maternidade.
O grupo pretende compartilhar suas lembranças, suas experiências e tentar encontrar pistas que revelem quem são ou foram seu verdadeiros pais que, em muitos casos desapareceram nos cárceres das SS.
Peter Nauman, presidente do grupo de auto-ajuda aos traumatizados conta: "Muitos de nós, somente agora, começamos a pensar sobre de onde nós viemos".
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, muitos registros do projeto Lebensborn foram destruídos, queimados e as crianças herdaram o grande nada-saber sobre suas famílias. Recentemente [2006], alguns documentos foram encontrados no sótão da clínica de Wernigerode.
O silêncio das mães, o peso da ilegitimidade e a conexão com um projeto nazista mantiveram os ex-Lebensborn calados por décadas. O programa, implementado pelas SS, encorajava mulheres de sangue puro [ariano] a gestar crianças brancas, louras, de olhos azuis.
Concebido em dezembro de 1935, começou a funcionar em 1936 e um de seus objetivos públicos era deter o número de abortos, através do apoio às grávidas solteiras.
Entre outras razões para adotar essa política, as autoridades alegavam que havia poucos varões disponíveis para o casamento depois da Primeira Guerra Mundial.
O projeto possibilitava, especialmente para as grávidas de prováveis arianos, solteiras, terem seus filhos anonimamente, longe de seus lares, longe de suas famílias e conhecidos. Se a mãe não queria ou não podia assumir os cuidados com o filho, o Lebensborn providenciava a adoção da criança.
Em outros casos, atendiam mulheres de membros das SS que atenderam ao apelo de Himmler pela disseminação da semente ariana. Os requisitos para ingressar nas clínicas eram checados por agentes das SS.
As mulheres tinham de provar que elas mesmas e os pais das crianças eram arianos puros de três gerações, ou seja, filhos pais de arianos e netos de quatro avós arianos.
As crianças recebiam seus nomes e eram batizadas em um ritual das SS: os bebês eram tocados por uma lança das SS enquanto as mães juravam lealdade à ideologia nazista.
Hitler acreditava que a raça Nórdica estava destinada a governar o mundo. Porém, muitas crianças Lebensborn, antes e, especialmente depois do fracasso alemão na Segunda Guerra, ficaram emocionalmente traumatizadas, carentes da ternura de uma verdadeira família, percebendo que eram segregados por seus pais adotivos.
Crianças norueguesas repatriadas sofreram com o estigma de serem filhos de nazistas e muitos acabaram em asilos para doentes mentais.
Guntram Weber, 63 anos [em 2006], professor em Berlim, escritor, descobriu há pouco tempo que é afilhado de Heinrich Himmler e que seu pai tinha sido um major-general nas SS. Weber confidencia:
"Eu suspeitei que minha mãe estava mentindo para mim. Ela me dizia que pai era um motorista de caminhão da Luftwaffe [Força Aérea Alemã] e que morrera na Croácia.
Mas não havia nenhum documento ou fotografia". Com ajuda do padrasto, Weber começou a pesquisar sua origem.
Aos 58 anos descobriu que era um ex-Lebensborn. "Da noite para o dia eu fiquei sabendo que meu pai tinha sido um criminoso de guerra. Era casado e tinha três filhos quando engravidou minha mãe. Ela se impressionou com a posição dele. No fim, ele fugiu para a Argentina e lá morreu em 1970".
Gisela Heidenreich [esq.] e Brigitta Rombeck.
Em 1950, Gisela Heidenreich, alta, olhos azuis, descobriu que seu pai era um oficial das SS, casado e sua mãe, uma secretária de uma unidade Lebensborn.
Ela começou a investigar o próprio passado quando viu, em uma revista, uma reportagem sobre os reprodutores da Lebensborn e as prostitutas das SS. "Meu mundo caiu. Minha mãe não fora uma simples e inocente secretária. Ela foi a puta que me pariu".
Fonte: CROSSLAND, David. 'Himmler was my godfather' [Himmler foi meu padrinho]
In Times Online /UK ─ publicado em 06/11/2006
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/europe/article626101.ece
LEBENSBORN: FANTASMA N4ZI5TA
Entre 1935 e 1945, cerca de dez mil crianças alemãs e nove mil norueguesas, todas louras de olhos azuis, nasceram sob os auspícios do programa Lebensborn ou Fonte de Vida.
Em 1943, Himmler ordenou que as crianças racialmente qualificadas encontradas e/ou avistadas nos países europeus conquistados, fossem seqüestradas, retiradas de suas casas ou capturadas nas ruas.
Uma vez em poder dos nazi, essas crianças era distribuídas entre os Lares Lebensborn para serem germanizadas antes de serem encaminhadas para a adoção.
O projeto era parte da estratégia nazista para criar uma master race, uma raça superior. Sessenta anos depois, muitos dos ex-Lenbensborn vivem com traumas psicológicos.
Gisela Heidenreich, recorda: "Meu tio me chamava de bastarda das SS. Eu me lembro da sensação de alguma coisa estava errada comigo".
Gisela nasceu da relação entre um comandante das SS e de uma secretária de um lar Lebensborn.
Hienrich Himmler, lider das SS [Tropas de proteção do Terceiro Reich] encorajou as relações sexuais entre seus comandados e mulheres arianas; ele queria aumentar a potência racial germânica, em risco por conta da diminuição de nascimentos de arianos.
Naquele tempo, quando ser mãe solteira era um tabu, mancha social, Himmler implantou dez lares Lebensborn na Alemanha e nove, na Noruega ocupada. Nesses lares as grávidas solteiras eram abrigadas, tinham conforto e assistência médica durante a gravidez e no parto.
Muitos Lares Lebensborn foram instalados em casarões confiscados de famílias judias; outros, em antigos asilos para idosos e/ou para doentes mentais. Algumas mães ficavam com seus bebês; outras, porém, entregavam-nas para adoção, aos cuidados de boas famílias alemãs.
Gisela Heidenreich voltou duas vezes ao local do Lar Lebensborn onde nasceu e onde sua mãe trabalhava, em Steinhoering, a uma hora de Munich.
O lugar fica em meio a suaves colinas de onde se pode ver os picos nevados dos Alpes. Na segunda visita, conheceu a mãe, que na época da guerra, ali trabalhava selecionando crianças para adoção.
Vítimas de Hitler: Os antigos portões ainda estão lá; ainda têm o símbolo as Nazi SS servindo de apoio para escorar a parede de um estábulo.
Esses portões e uma estátua, representando uma mãe ariana amamentando seu bebê, são lembranças de um passado sombrio. Gisela ficou emocionada diante daquelas referências depressivas.
Maria Dorr, outra ex-Lebensborn, filha de mãe norueguesa e pai soldado nazista, vive hoje em Frankfurt, Alemanha. Ela se considera uma vítima de Hitler.
Quando ainda era bebê foi levada de seu país ao Lar Lebensborn de Koren Salis, próximo a Leipzig, onde ficou até ser adotada por uma família alemã.
Segurando as lágrimas, Maria lembra o momento em que soube que era adotada:
"Eu estava na escola quando uma mulher se aproximou e me disse que eu não era alemã. A partir daí, passei a mexer nas coisas de minha mãe adotiva. Quando fiquei adulta, finalmente, encontrei minha ficha no arquivo do Lebensborn e descobri toda a verdade. Eu fiquei perturbada, me senti lesada, prejudicada e isso causou problemas na minha vida".
N4ZI5TA? NÃO!
Em um pequeno chalé de madeira, Maria Hinich contempla, com orgulho, sua foto em um álbum de 1942, quando ela trabalhava como secretária no Lar Lebensborn de Korem Salis [o mesmo que acolheu Maria Dorr].
Hinich não se lembra de Maria Dorr mas ela ficou emocionada com algumas outras crianças Lebensborn que foram procurá-la em sua casa.
Ela insiste que, embora trabalhasse no projeto, não era nazista: "Eu era jovem e não sabia bem o que fazia, mas, realmente, eu gostava do meu trabalho lá".
Gisela Heidenreich explica que muitas mulheres que trabalharam no projeto, incluindo sua mãe, têm dificuldade de aceitar que participaram, embora desempenhando pequeno papel, da implementação política racial de Hitler.
Em 1945, Gitta Sereny, da União das Nações par Apoio e Reabilitação, trabalhava encontrando, resgatando e repatriando crianças seqüestradas pelo Lebensborn, de volta a seus países.
"Eu coordenei muitos repatriamentos de crianças polonesas. Era tocante ver seus pais nas plataformas quando o trem chegava. Muitos dos que tinham perdido seus bebês para os nazistas não perderam a esperança de reencontrá-los e nunca falhavam no reconhecimento de suas crianças".
Nem todas as crianças tiveram a mesma sorte, do repatriamento, do reencontro com a família. Ingrid Von Oelhalfen, que tinha oito meses quando foi seqüestrada na Slovenia e levada para a Alemanha, não achou conforto depois da Segunda Guerra. Ela chora enquanto explica o efeito devastador do Lebensborn em sua vida: "Eu nunca fui amada".
Fonte: BISSEL, Kate. Nazi past haunts 'Aryan' children
In BBC News publicado em 13/06/2005
<http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/4080822.stm>
Nenhum comentário:
Postar um comentário