ESOTERISMO. Existe um número limitado de almas que nascerão neste mundo. Este é um ensinamento rabínico que se opõe à idéia de que Deus cria, cada alma, no momento da concepção de um novo ser humano. É uma crença do misticismo judaico que encontra-se registrada em passagens do livro Zohar e em volumes do Talmud (coleção de comentários dos Rabinos sobre a Torá).
"As almas de todos aqueles que ainda não nasceram são mantidas no Guf, o Tesouro das Almas" (SCHWARTZ, 2006 - p 166). Trata-se de um lugar chamado Guf ou Câmara da Criação. Ali, cada alma espera sua vez de viver na Terra. Esse número limitado de almas teria sido criado no sexto dia do Gênesis.
Quando chega o momento de "descer" a este plano de existência o arcanjo Gabriel coloca sua mão no "Tesouro" e retira dali a primeira alma que sua mão toca. Esta alma é entregue a um anjo designado para acompanhar aquela alma na jornada da encarnação.
Quando uma mulher está prestes a dar a luz um pardal aparece nas imediações do local onde encontra-se mãe e canta. É um sinal de que está próxima a hora do nascimento.
O Guf localiza-se no mais alto dos Céus - também chamado Aravot (referindo-se a Árvore da Vida, (do hebraico ערבה) identificada tanto como um salgueiro quanto com uma região celestial.
O Guf está próximo ao Trono da Glória. No Aravot, existem muitos outros tesouros divinos guardados por anjos: tesouro das chuvas, das nuvens, do gelo e da neve, da paz, das bençãos e o tesouro do orvalho - a umidade, este último, utilizado por Deus para ressucitar os mortos.
No Guf, uma luz deslumbrante emana das numerosas almas que repousam esperando a hora de nascer.
São almas imaculadas, não corrompidas pela existêcia neste mundo. Algumas possuem o brilho modesto da chama de uma vela, outras brilham como uma tocha e umas tantas são resplandescentes como o sol.
Assim que a alma deixa o Guf, o Salão das Almas, ela perde suas vestes celestiais e penetra no corpo de carne e sangue do nasciturno.
Não há consenso entre os escritos talmúdicos sobre o número de almas alojadas no Guf: alguns dizem que o Salão contém um número infinito delas; outros, afirmam que esse número é finito, determinado, e que o Messias somente virá ao mundo quando o Guf esteja completamente vazio.
Existe, ainda, a crença de que a partir do dia em que o segundo Templo de Jerusalém foi destruído nenhuma alma mais foi criada no Guf (contrariando a teoria da criação simultânea) e quando todas as que lá permanecem forem retiradas para a experiência carnal, quando salão se esvaziar, o Messias virá.
Essa vinda, porém, não será para estabelecer um reino de paz terreno, antes será para a a destruição da Humanidade.
Quando a última alma descer ao plano terreno, a primeira criança nascida despois deste evento, será uma criatura desprovida de alma e, portanto, será um natimorto. Naquele dia, os pardais não cantarão mais, é o sinal escatológico, e todos saberão que o Fim do mundo começou.
Com base nessa crença, é posível supor, em hipótese, a existência de um plano, por parte de alguns satanistas que têm por objetivo evitar o Fim dos Tempos ou as profecias do livro Apocalipse empreendendo ações que visam impedir o nascimento de bebês a fim de que o Salão das Almas não fique vazio nunca.
Entre estas ações estão o estímulo à interrupção da gravidez e a esterilização em massa dos povos de todas as nações.
O SALÃO DAS ALMAS NO APOCALIPSE DE BARUCH
Além dos escritos talmúdicos, não existe muita literatura sobre o salão das almas ou sobre a questão do número de almas criadas ou a serem criadas. A exceção é um livro apócrifo, o chamado Apocalipse de Baruch ou BARRURR BEN NERRIÁ - que foi o escriba, discípulo, secretário e amigo dedicado do profeta bíblico Jeremias (Ierrmiayahu).
Entre os capítulo 20 e 22 de seu Apocalipse, Burrur, falando com o Criador, apela para que este ponha um fim ao sofrimento da Humanidade e pede ao Altíssimo:
"Permite-me conhecer tudo o que de Ti procede! Esclarece-me, é isso que eu Te suplico! Até quando persistirá o transitório? Quanto dura o tempo cheio de felicidade dos mortais? Até quando seguirão contaminando-se com muita maldade os que vão morrer? Ordena agora, em nome da tua piedade! Faze cumprirem-se todas as tuas ameaças, para que experimentem a tua força também aqueles que tomam a tua paciência por fraqueza! Dize-o àqueles que o não sabem! Tudo o que até agora aconteceu conosco e com a nossa Cidade ocorreu por obra da bondade do teu poder; pois Tu nos escolheste como povo predileto, por amor do teu Nome.
"Assim, retira a mortalidade dessa natureza mortal! Coíbe também, por isso, os Anjos da morte! Faze visível a tua majestade e conhecida a tua glória divina. Seja lacrado o mundo inferior, para que doravante não receba mais nenhum morto! Que as câmaras das almas devolvam todos aqueles que lá estão encerrados!"
Eis a resposta do Todo Poderoso:
"Por que te preocupas, pois, com aquilo que não sabes? Por que te angustias com o que não conheces? Se tu tens conhecimento dos homens de hoje, e dos que já se foram, eu conheço os que hão de vir.
Quando Adão pecou, atraindo a morte sobre os seus descendentes, foi então contada a grande massa daqueles que haveriam de nascer; e foi preparado um lugar para aquela multidão, tanto para morada dos vivos como para a guarda dos mortos.
Enquanto aquele número predeterminado não for preenchido, as criaturas que morreram não revi verão. O meu Espírito é o de Criador da vida; e o mundo inferior continuará a receber os mortos."
FILME
Finalmente, para os mais curiosos, existe um filme cujo enredo baseia-se nessa tradição talmudica (que não é judaica, é babilônica. Trata-se de THE SEVENTH SIGN, 1988 (título em português: A SÉTIMA PROFECIA), dirigido por Carl Schultz.
FONTES
SCHWARTZ, Howard. Tree of Souls: The Mythology of Judaism.
Oxford University Press, 2006
in GOOGLE BOOKS.
https://www.google.com.br/books/edition/Tree_of_Souls/5psRDAAAQBAJ?hl=pt-BR&gbpv=0
The Seventh Sign
https://en.wikipedia.org/wiki/The_Seventh_Sign