21/01/2007 🌊🌊🌊 #DILUVIOS
trad. espanhol/português: Caroline Beck & Lygia Cabus
pesquisa e textos complementares: Lygia Cabus, 2012
Era um grupo de sobreviventes. O resto de uma nação arrasada à bordo de frágeis embarcações frente à imensidão do Oceano. A história de muitos pré-colombianos começa assim. Seus descendentes dizem: "Nosso povo veio do Mar" ou, ainda, nosso deus veio do mar. "Nossos ancestrais viveram em uma cidade fabulosa". Mistério.
O enigma, segundo muitos pesquisadores está em uma história que virou lenda: o desaparecimento da Pequena Atlântida, da ilha de Poseidonis, engolida pelas águas convulsas do Atlântico na região localizada em frente ao Mar Mediterrâneo, a noroeste da África. Os que escaparam da catástrofe, dispersaram-se. Tomaram rumos diferentes levando sua cultura aos mais longínquos pontos do planeta Terra. Essa é a raiz da mitológica saga de Naylamp. [L.Cabus]
Seguindo a corrente marinha del Niño, algumas embarcações em forma de balsa viajavam em direção ao sul, jornada iniciada na costa ocidental do México, e prosseguiam ritmo regular sobre a clara imensidão do oceano Pacífico. Na proa da balsa que conduzia o grupo, via-se um imenso Abanador de plumas multicoloridas.
Na ponte de comando se erguia um homem de elevada estatura, aspecto aristocrático e altivo, pele clara e fisionomia notadamente semita, a cabeça envolta num volumoso turbante emplumado que trazia seu centro uma magnífica turquesa. Naylamp este era o seu nome, o herói divinizado que guiava sua frota de sobreviventes errantes em direção da região que mais tarde chamar-se-ia Peru.
Após incontáveis e desesperados dias de navegação, ao avistar uma praia que parecia adequada para seus projetos, o líder emitiu a ordem. As naves viraram para direção indicada. Pouco depois, a proa da nave aportava suavemente na areia. Um novo ciclo histórico estava para começar. Junto a praia havia centenas de embarcações. Nelas, quietas, amontoavam-se homens, mulheres e crianças, porém - ninguém se movia.
Pouco mais tarde, um homem desceu de um dos barcos: Era Pitazofi, encarregado de fazer soar a trompa real. O instrumento constituía-se de um enorme búzio-cornucópia chamado Spondylus. Avançou alguns passos e logo, levando aos lábios o perolado corno, arrancou um sonoro e potente ronco. A viagem de angustiada fuga tinha acabado e uma nova jornada estava começando.
Em seguida, os portadores da liteira real, Nicacolla, desembarcou seguido de seus ajudantes. Ao pisarem na praia, enquanto ressonava outro toque de trombeta, descia da nave outro viajante, com um pesado cofre sobre as costas. Tratava-se de Fongasidas, cuja função consistia em espalhar pelo solo, durante o cortejo real, punhados de pedrinhas roxas a fim de proteger o augusto ocupante da liteira.
De novo se escutou a trompa e, seguido por seis homens transportando enormes caixas, desembarcou LLapchilully, encarregado do guarda-roupa real; logo tocou o turno de Ochacali, cozinheiro chefe, junto com seus ajudantes. Por último desembarcou Allopoopo, cuja a missão era preparar o banho do rei a cada etapa da viagem.
Todos aguardavam; eis que, ainda uma vez, ao ressoar da trompa, quatro indivíduos luxuosamente vestidos e com coroas de ouro na cabeça, desembarcaram com passo solene levando nos ombros uma outra liteira.
Sobre uma pequena almofada estava molemente recostada à princesa Ceterni (ou Cetemi), a esposa do rei. Por último, uma voz rouca ordenou que a todos os passageiros da nave se ordenarem em fila. Naylamp avançou entre eles, apertando contra o peito um gigantesco Spondylus. Depois de desembarcado postou-se, em reverência, diante de seu deus. Todo o povo repetiu o gesto.
A primeira ordem do rei foi que se erguesse, no lugar exato do desembarque, um sinal tangível de sua chegada, um monumento que celebrasse, de acordo com suas intenções, a aliança entre o mar e a terra, entre suas respectivas divindades: Chia (a Lua) e Ra, o deus solar, aquele que haveria de gerar o messias.
ELDORADOS SUL-AMERICANOS: O LAGO DE
GUATAVITA O Lago de Guatavita é um lugar místico relacionado à famosa lenda do Eldorado sul-americano, partilhada por nações pré-colombianas de diferentes partes do continente: Venezuela, Brasil, Peru, México, etc.. O lago Guatavita e
distrito, como um condado, com o mesmo nome estão situados na província de
Guavio, em Cundinamarca ̶ um dos 32 departamentos Colômbia. O Lago localiza-se, mais precisamente, na jurisdição da cidade de Sesquilé, a 63 km de Bogotá, capital daquele país, localizado a 3 mil metros acima do nível do mar. Talvez, por isso, seu nome signifique fim da terra* (ou começo do céu, morada de deuses). * fin de la labranza, traduzido comumente como fim
da lavoura ou fim do solo mas, evidentemente, dado
ao caráter sagrado do local, o significado certamente refere-se à
Terra, ao âmbito das coisas terrenas. Quando os colonizadores espanhóis chegaram no continente sul-americano, o Lago era apenas uma lembrança, referência de algo restrito à esfera das "lendas" regioais. Os nativos falavam dele mas não sabiam ou não queriam indicar seu local exato. Somente em 1537 o Lago de Guatavita foi reencontrado pelo explorador Gonzalo Jiménez de Quesada. Até hoje, nas margens do Lago Guatavita, todos os anos uma cerimônia religiosa é celebrada. Consiste em retirar da água alguns pedaços de argila verde, esses pedaços transformam-se em rãs de jade. |
Passaram-se dias, meses, anos. A cidade de LLampallec (atualmente, Lambayeque, onde se encontra um sítio arqueológico) já esta edificada, a religião solidamente desenvolvida e a economia da nova nação é segura e estável.
SUBIU AOS CÉUS
Então, tal como fizeram Quetzalcóalt e Viracocha, com os maias, os astecas e outros povos andinos, Naylamp decide que chegou a hora de partir, deixar a sua gente. às margens do oceano, reuniu sua comitiva e tomando a forma de um pássaro, alçou voo desapareceu no horizonte, deixando seu filho, Si-Um que reinou sobre o país durante muitos anos.
Pesquisas arqueológicas e históricas indicam que Naylamp e sua comitiva chegaram ao Peru (provenientes de local desconhecido, ) aportando na enseada de San Jose, na foz de um rio chamado Faquisllanga, hoje rio Lambayque. Uma de suas primeiras iniciativas foi construir um templo, o templo de Chot, onde foi colocada a imagem de uma divindade que, no plano terreno, era representada pelo chefe da nação, ou seja, o próprio Naylamp.
De acordo com o pesquisador Cabello Valboa essa imagem ou ídolo era chamado Llampayec, signicando "imagem de Naylamp".
Naylamp foi, segundo apontam os estudos, fundador do Reino de Sicán, no século IX d.C.. Como divindade encarnada, era considerado imortal. Assim, Naylamp não morreu, elevou-se transformado em pássaro retornando, deste modo, à sua pátria de origem.
Antes que a morte o alcançasse, Si-Um ̶ isolou-se em uma caverna. Nunca mais foi visto. O mito da imortalidade tornou-se o mais precioso legado para sua descendência. Três de seus filhos criaram pequenos principados locais.
A dinastia deixou uma fortuna para seus onze representantes. O último deles, Fempellec, quis mudar de lugar a estátua de Naylamp, que estava anteriormente no Templo de Chia, a Lua. Contudo, apareceu um "demônio", com o aspecto de uma jovem que o seduziu e convenceu de desistir da idéia.
Produziu-se, então, uma terrível tempestade que durou trinta dias, um autêntico dilúvio que arrasou o templo e a colheita por completo. O povo, desorientado e inquieto, revoltou-se contra seu soberano; nobres e sacerdotes juntaram-se ao povo. Amarraram Fempellec e o jogaram no mar.
Assim, por estranha fatalidade, a mística dinastia de Naylamp, que havia chegado pelo mar, também se extinguiu no mar. Ninguém ocupou o trono até a chegada de Gran Chimú que, vindo de Chan Chan estendeu, a partir de LLampallec-Lambayeque, seus domínios por todas as Regiões ocidentais da América do Sul.
A DESCOBERTA
DOS TEMPLOS DE NAYLAMP
Assim que as escavações começaram, os pesquisadores puderam apreciar imediatamente a estrutura do templo. Uma série de pinturas - com representações das cerimônias que onde realizados no templo, bem como formas e padrões imediatamente reconhecíveis como Mochica e iconografia Lambayeque - cobriu uma série de paredes nas partes mais altas da estrutura de adobe. (EN PERU, 2009) Ao longo de quatro décadas, o Museu Hermógenes Mejía Solf, situado em Jaén,
Cajamarca, uma região do norte do Peru, onde os Andes começam sua
decida em direção Amazônia, exibiu mais de 3.000 fósseis, objetos de cerâmica
e pedra, peças de uma beleza misteriosa pertencentes às culturas de uma
Amazônia antiga e envolta em mistérios. Os moradores sempre foram
surpreendidos com a diversidade de itens encontrados, embora não tivessem
idéia de sua história. Há menos de 10 minutos do centro de Jaén, um grupo de pesquisadores apoiados
por moradores desenterrou dois templos, que, segundo os primeiros indícios,
pertencem a uma cultura que poderia ser algo como 4000 anos de idade. Seus
construtores teriam sido os ancestrais da cultura Bracamoros, cujos atuais
representantes habitam a atual fronteira Peru-Equador. Em ambos os templos cerca de 14 túmulos (acima) foram descobertos, incluindo alguns contendo os ossos de
crianças e adolescentes, que foram sacrificados como oferendas em épocas
diferentes, ao longo de 800 anos de utilização das edificações.
Quando os
arqueólogos começaram a trabalhar, encontraram grandes paredes semicirculares
feitas de argamassa de barro e outras feitas de pedras enormes que pesam até
200 kg cada uma. A equipe se surpreendeu com a técnica usada para decorar as
paredes de barro, coloridas. Além disso, as 8 fases de construção estavam em
perfeito alinhamento. Outro dado
espantoso é que os templos, de acordo com Quirino, parecem ter sido
construído por volta de 2000 a.C., cerca de 4000 anos atrás. Esta é a
primeira descoberta deste tipo na região, e o primeira a partir deste período
de tempo em qualquer zona de contato entre os Andes e a Amazônia. "Podemos
estar diante de uma das primeiras civilizações do Peru. Se continuarmos a
cavar podemos encontrar evidências anteriores [às
culturas] Chavín, Caral e Ventarrón. Nos Andes nem no litoral nada
tão antigo foi encontrado antes - explicou Olivera. Nos templos
foram achados, ainda, caramujos e conchas Spondylus, indicando que esta
civilização teve contato com povos não somente da Amazônia peruana mas,
também, com a costa equatoriana. Todavia, as conchas Spondylus são
mencionadas na lenda do rei Naylamp que, segundo o mito, aportou em terras
sul-americanas - acompanhado de centenas de súditos - proveniente do Oceano
Pacífico. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário