biografia
por @LigiaCabus
A Trimurti Hindu: Brahma, oincognoscível Criador. Vishnu, o agente da criação, a esqueda da imagem. Shiva, o Destruidor, a direita.
Vishnu é a segunda pessoa da Trindade hindu, a Trimurti. Nesta Trindade, em analogia superficial com a Trindade Católico-cristã, Brahma é o Pai, Vishnu é o Filho e Shiva, o Espírito Santo.
Um avatar é a encarnação de um ser superior, um Deva, para uns; o próprio Ser Supremo para outros — Deus entre os homens e, de fato, segundo as escrituras indianas, a vida de Krishna na Terra foi decidida nas esferas do céu. No Bhagavat-Gita ou O Canto do Senhor, o próprio Krishna explica ao discípulo Arjuna sua encarnação:
Oh Arjuna, tanto vós como eu temos passado por muitos nascimentos... Embora eu seja não-nato e de natureza imutável, e embora eu seja o Senhor de todos os seres, ainda assim, governando minha Prakriti [natureza, matéria primordial] e pelo meu próprio Maya, assumo a condição de ser. Ó Bharata [Arjuna], sempre que há declínio da virtude e predominância do vício, encarno-Me. Para a proteção do bom e destruição dos mal-feitores e para o restabelecimento do Dharma [virtude e religião, ou a Lei] sou nascido de era em era.
[BAGHAVAD-GITA - trad. Sodré Vianna In A Sabedoria da Índia de Lin Yutang. Rio de Janeiro: Pongetti, 1955 - p 77]
O guru krishnaísta Sua Divina Graça Swami Prabhupãda, Fundador-Ãcãrya da Sociedade Internacional da Consciência de Krishna, relata o episódio da encarnação de Krishna segundo o décimo canto do Srimad-Bhãgavatam de Srila Vyãsadeva:
O nascimento de Krishna: Ele se manifestou na forma de Vishnu, com seus quatro braços e todos os seus atributos. Devaqui e Vasudeva tiveram certeza que traziam ao mundo o Filho de Deus.
IMAGENS: SIRIMAD BAGAVATAM
Uma vez, o mundo se viu sobrecarregado com a força defensiva desnecessária de diferentes reis, que na realidade eram demônios mas se faziam passar pela ordem real. Nesse tempo, o mundo inteiro ficou em desordem, e a divindade predominante desta terra, conhecida como Bhumi foi ter com o Senhor Brahma para falar-lhe das calamidades causadas pelos reis demoníacos. ...
Então mobilizaram-se o Senhor Brahma e todos os Devas para consultar a Suprema Personalidade de Deus, Vishnu, que revelou seu próprio aparecimento, muito em breve, na Terra juntamente com Suas poderosas potências supremas, e enquanto Ele permanecesse no planeta Terra para executar Sua missão de aniquilar os demônios e estabelecer os devotos, os semideuses também deveriam permanecer ali para ajudá-lo. Todos eles deveriam nascer imediatamente na família da dinastia Yadu, onde o Senhor também apareceria na ocasião oportuna.
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Existem duas versões do nascimento de Krishna e a diferença fundamental entre elas refere-se à mãe do avatar, a princesa chamada Devaqui.
Na lenda, Devaqui concebe virgem, tal como, séculos e séculos depois, Maya concebeu Sidarta Gautama, o Buda Sakyamuni e Maria concebeu Jesus.
Nos registros históricos recolhidos em escrituras indianas, como Mahabharata, o Harivamsa, Bhagavat Purana e Vishnu Purana, Devaqui é casada com Vasudeva. Nas duas versões, porém, o contexto histórico e as personagens são os mesmos.
LENDA E HISTÓRIA
A versão lendária, apresentada abaixo, onde uma Devaqui virgem que concebe o Filho de Deus, foi extraída da obra de Édouard Schuré, Os Grandes Iniciados:
[Exilada de sua pátria, vivendo entre os anacoretas, um dia, Devaqui caiu em êxtase profundo]. ...Dir-se-ia que pelos seus ouvidos perpassava uma música celeste, como que o marulhar de um oceano de harpas e vozes divinas. Súbito, o céu abria-se em abismos de claridade. Milhares de seres esplêndidos a contemplavam, enquanto no brilhar de um raio fulgurante lhe aparece, sob forma humana, o sol dos sóis, Mahadeva [O Deus do Deuses, o Maior dos Deuses]. E, então, tendo sido fecundada pelo Espírito dos Mundos, ela perdeu o conhecimento, e, em um alheamento da terra, em uma felicidade sem limites, concebeu filho divino.
[KRISHNA Col. Os Grandes Iniciados nº 2. Édouard Schuré - trad. Domingos Guimarães. São Paulo: Martin Claret, 2003]
O rei Kamsa é admoestado pela deusa Durgã, que tomou o lugar de Krishna no berço.
IMAGENS: SIRIMAD BAGAVATAM
O Krishna histórico é um personagem que aparece em referências de várias escrituras sagradas indianas. Tal como outros grandes mestres da Humanidade, Khrisna nasceu em família real - como Buda, que era príncipe do clã Sakyamuni; como Jesus, que pertencia à Casa do Rei Davi.
Krishna veio ao mundo na dinastia de Matura [Mathura ou Madurá], governante do país de Matura [hoje, no estado indiano de Uttar Pradesh].
Filho da princesa Devaqui com o sábio Vasudeva, era sobrinho do rei Kamsa que, sequioso de poder, assumira o trono depois de encarcerar o próprio pai. Devaqui era irmã de Kamsa [outras versões, dizem prima].
Além de trair o pai [rei Ugrasena], Kamsa, em sua ambição, aliou-se ao mago negro Calanemi, rei dos Iávanas, "rei das serpentes", seguidor da sangrenta deusa Kali, amigo dos demônios raksashas.
Kamsa firmou sua aliança casando-se com a pérfida filha de Calanemi, a princesa Nixcumba. Logo, Nixcumba tornou-se a favorita do rei Kamsa. Ele estava totalmente enfeitiçado pelos encantos da mulher.
Ela, em conchavo com o pai, que pretendia expandir cada vez mais seus domínios sombrios, ansiava por conceber um filho. A criança herdaria o país de Mathura. Entretanto, Nixcumba não engravidava. Fez todas magias, todos os rituais, mas seu corpo permanecia estéril como a areia do deserto.
Foram, então, convocados todos os magos e sacerdotes para que fizessem uma poderosa invocação aos deuses em favor da fertilidade de Nixcumba.
Os oráculos, porém, confirmaram a esterilidade da princesa e ainda indicaram aquela que seria a mãe do herdeiro de Mathura: Devaqui, irmã do rei, casada com o sábio Vasudeva, que tinha 16 esposas.
Segundo a previsão, o oitavo filho de Devaqui [algumas versões dizem o sétimo] estava destinado a reinar em Mathura. Deste momento em diante, Kamsa e Nixcumba, passaram a tramar contra a vida de Devaqui e sua prole.
Como primeira providência, o casal foi preso, para que não tivesse filhos sem que o rei soubesse; cada filho deveria ser apresentado a Kamsa e este, decidiria o destino da criança. O plano era matar todos os filhos de Devaqui, uma medida de precaução.
Diz-se que Kamsa foi o mais demoníaco de todos os reis da dinastia Bhoja. Imediatamente após ouvir a profecia do céu, ele agarrou o cabelo de Devaki e estava a ponto de matá-la com sua espada.
...Vasudeva pediu que Kamsa não tivesse inveja de sua irmã recém-casada. Não se deve ter inveja de ninguém porque a inveja é a causa do temor tanto neste mundo como no próximo quando se está perante Yamarãja (o senhor do castigo depois da morte).
Vasudeva apelou para Kamsa em favor de Devaki, afirmando que ela era a sua irmã mais nova. ..."A situação é especialmente tão delicada", concluiu Vasudeva, "que se você matá-la, irá de encontro à sua alta reputação".
[In O LIVRO DE KRISHNA — BHAKTIVEDANTA SWAMI PRABHUPÃDA]
KAMSA "HERODES"
Kamsa matou seis crianças que Devaqui gerou; a sétima, Devaqui abortou num episódio curioso pois, este filho, não-nascido, reencarnaria, logo após a morte no ventre da mãe, em outro menino que estava sendo concebido, naquele momento, pela sexta esposa de Vasudeva, Rohini. De certa forma, por meio da reencarnação, o sétimo filho de Devaqui sobreviveu e foi chamado Balaramã.
Quando Devaki ficou grávida pela sétima vez, dentro de seu ventre apareceu uma expansão plenária de Krishna conhecida como Ananta [ou Sesa]. Devaki foi dominada tanto pelo júbilo quanto pela lamentação.
Ela estava jubilante, pois podia compreender que o Senhor Visnu Se abrigara dentro de seu ventre, mas ao mesmo tempo lastimava-se, porque logo que seu filho aparecesse, Kamsa O mataria. Nessa ocasião, Vishnu, a Suprema Personalidade de Deus, compadecendo-se do estado de pavor dos Yadus [homens santos], causado pelas atrocidades cometidas por Kamsa, mandou que Sua yogamãyã (ou Sua potência interna) aparecesse.
Assim, o Senhor informou a Yogamãyã:
"Devaki e Vasudeva encontram-se na prisão de Kamsa e neste momento Sesa, minha expansão plenária, está dentro do ventre de Devaki. Você pode arranjar a transferência de Sesa do ventre de Devaki para o ventre de Rohini. Depois deste arranjo, vou aparecer pessoalmente no ventre de Devaki com Minhas potências completas. Então aparecerei como o filho de Devaki e Vasudeva. E você aparecerá como a filha de Nanda e Yasoda em Vrndãvana [em Gokula]". [Idem]
Balaramã, foi companheiro de Krishna em suas aventuras e na versão histórica, ambos terminaram seus dias na "cidade de ouro" de Dawaraka, na costa sul indiana.
A criança nasceu com todos os atributos da divindade:
"...quatro mãos, segurando o búzio, a maça, o disco e a flor de lótus... usando o colar adornado com a pedra kaustubha, vestido em seda amarela, deslumbrante como uma brilhante nuvem negra, usando um elmo ornado com a pedra vaidurya, valiosos braceletes, brincos e outros ornamentos similares por todo o Seu corpo e muito cabelo sobre Sua cabeça".
[PRABHUPÃDA].
O prodígio. desta forma e atributos sobrenaturais, ao nascer, foi a maneira direta de Vishnu-Krishna fazer saber a seu pai terreno, Vasudeva, que ali estava o Filho de Deus. Outros fenômenos manifestaram-se, na Terra e em todo o Universo glorificando a chegada do Deus que ia estar entre os homens.
Entretanto, a manifestação terrena do avatar, o corpo físico do recém-nascido Krishna, era um corpo mortal e, portanto, ainda sujeito a ser morto rei Kamsa, tal como acontecera aos seis irmãos que o precederam. Por isso, depois de se revelar em aspecto divino a Vasudeva e Devaqui, Krishna assumiu a forma humana, um bebê como tantos outros.
Vasudeva, percebendo o perigo da situação, afligia-se, pois Kamsa logo saberia do nascimento do oitavo filho de Devaqui. Todavia, o próprio Krishna resolveu o problema. Ele disse:
"Sei que vocês estão muito preocupados coMigo e com medo de Kamsa. Por isso ordeno que Me levem imediatamente para Gokula e Me substituam pela filha que acaba de nascer de Yasodã". Para sair do palácio levando a criança, Vasudeva contou com o auxílio miraculoso dos Devas:
Conforme ordenou-lhe a Suprema Personalidade de Deus, Vãsudeva tentou tirar seu filho do quarto do parto, e exatamente nesse momento nascia uma menina de Nanda e Yasodã. Ela era Yogamãyã, a potência interna do Senhor. Pela influência desta potência interna (Yogamãyã), todos os residentes do palácio de Kamsa, especialmente os porteiros, foram dominados por um sono profundo, e todas as portas do palácio se abriram, embora estivessem trancadas e agrilhoadas com correntes de ferro. A noite estava muito escura, mas logo que Vãsudeva pôs Krishna em seu colo e saiu, ele pôde ver tudo exatamente como se estivesse à luz do sol.
Todas as portas da prisão se abriram automaticamente. Ao mesmo tempo trovejou no céu e caiu uma chuva torrencial. Enquanto Vãsudeva levava seu filho Krishna debaixo da chuva, o Senhor Sesa na forma de uma serpente estendeu Seu capelo sobre a cabeça de Vãsudeva para que a queda da chuva não o dificultasse. Vãsudeva alcançou as margens do Yamunã e viu que as águas do Yamunã bramiam onduladas e que toda a extensão do rio estava cheia de espuma. Ainda assim, o rio furioso abriu passagem para Vãsudeva atravessar, como o grande Oceano Índico abriu um caminho para o Senhor Rãma enquanto Este construía uma ponte sobre o golfo.
Dessa maneira, Vãsudeva atravessou o rio Yamunã. Chegando ao outro lado, Vãsudeva se dirigiu à casa de Nanda Mahãraja situada em Gokula, onde encontrou todos os pastores de vacas dormindo profundamente.
Ele aproveitou a oportunidade para entrar silenciosamente na casa de Yasodã, e sem dificuldade trocou seu filho pela menina que acabara de nascer na casa de Yasodã.
Então, depois de entrar silenciosamente na casa e de trocar o menino pela menina, ele regressou à prisão de Kamsa e em silêncio colocou a menina no colo de Devaki. Vãsudeva se algemou novamente para que Kamsa não pudesse se aperceber de que tinham acontecido tantas coisas. [Idem]
Como se viu no começo da história, quando Vishnu decidiu se manifestar na Terra em forma humana, também muitos os Devas ou semi-deuses, deveriam encarnar como auxiliares físicos e metafísicos da divindade. Personagens como Rohini, que abrigou em seu ventre e deu a luz a Balaramã; e Yosodã, cuja filha tomou o lugar de Krishna; e a própria menina, chamada Yogamãyã ou a deusa Durgã em forma humana, além de Devaki e Vasudeva, todos são devas encarnados à serviço do Filho de Deus.
PERSEGUIÇÃO DO REI KAMSA
Um daitya chamado Trinâvarta, mercenário contratado por Kamsa, na forma de um redemoinho chegou a sequestra o pequeno Krishna. A ação foi frustrada.
Kamsa, logo ficou sabendo que sua irmã dera à luz outro filho. Dirigiu-se imediatamente à prisão a fim de matar mais uma criança e, desta vez, a criança mais perigosa.
Porém, Krishna já havia sido trocado no berço. Ali acomodava-se agora a menina Yogamayã, contra quem o rei demônio dirigiu sua fúria.
Porém, o corpo da recém-nascida, animado por uma potência de Vishnu, assumiu a forma a deusa Durgã e repeliu o carrasco.
Durgã censurou o comportamento de Kamsa e revelou: o menino que ele procurava havia nascido e vivia longe dali. Depois disso a deusa desapareceu, retornando à sua morada planetária.
Frustrado e amedrontado, Kamsa reuniu seus conselheiros, todos demônios, que deliberaram matar todos os meninos nascidos em Mathura nos últimos dez dias.
Certamente o 8º filho de Devaqui seria alcançado por essa medida. Resolveram, também, que a melhor maneira de derrotar Vishnu e suas "encarnações" era atacar todos os seus devotos e, assim, iniciaram uma dura perseguição aos anacoretas, os sábios religiosos.
Para matar os meninos foram requisitados os serviços de demônios do tipo Putanã, bruxas que dominavam poderosos feitiços do mal. Enquanto isso, Krishna era festejado no seio da família de Yosodã. Yosodã era mulher de Nanda, tio de Krishna, irmão de Vasudeva. Nanda era um marajá que liderava uma comunidade de pastores em Gokula, localidade do norte da Índia.
Naqueles dias, chegou a Gokula uma das putanãs, disfarçada, com a aparência de uma bela e distinta mulher. Introduziu-se na casa de Nanda e Yosodã e acercou-se de Krishna.
Tomou o menino nos braços e lhe ofereceu o seio, que havia untado com um veneno fatal. Krishna soube perfeitamente que se tratava de uma assassina, não queria fazer mal a nenhum ser vivente porém sua missão era exterminar todos os demônios que corrompiam a Terra.
A putanã foi o primeiro demônio eliminado. Krishna aceitou o seio mas, ao sugar o leite, o veneno, em nada o afetou; ao contrário, a demônia, a ter o leite sugado, viu esvair-se junto toda a sua energia vital e morreu instantaneamente. Krishna começou sua vida e sua missão derrotando seus inimigos.
KRISHNA: PROEZAS DE INFÂNCIA E DA JUVENTUDE Krishna derrota a serpente Kaliya, de cem cabeças, no rio Yamuna Quando era apenas um bebezinho e nem mesmo enxergava direito, ele matou Pütanã, uma terrível demônia... Quando tinha um ano de idade, ele foi levado pelo demônio Trnãvarta que estava disfarçado de redemoinho; e embora tivesse sido levado bem alto no céu, Ele simplesmente agarrou-Se ao pescoço do demônio e forçou-o a cair, provocando a morte imediata do demônio. ...Certa vez, quando ele e Balarãma, Seu irmão mais velho, estavam guardando os bezerros na floresta, apareceu um demônio chamado Bakãsura, e Krishna com um golpe bifurcou os bicos do demônio. Quando o demônio conhecido como Vatsãsura, desejoso de matar Krishna, misturou-se com os bezerros que Krishna guardava, Krishna logo descobriu o demônio, matou-o e atirou-o contra uma árvore. Quando Krishna e Balarãma entraram na floresta de Talavana, o demônio conhecido como Dhenukäsura, na forma de um asno, atacou-Os e foi morto imediatamente por Balarãma, que agarrou-o pelas pernas traseiras e atirou-o contra uma palmeira. Embora Dhenukäsura fosse ajudado por seu bando, que também tinha forma de asnos, todos foram mortos, e então a floresta de Tälavana foi aberta para uso dos animais e habitantes de Vrdãvana. Quando Pralambãsura misturou-se com os pastorzinhos de vacas, que eram amigos de Krishna, Este fez com que Balarãma o matasse. Depois disso Krishna salvou seus amigos e vacas de um violento incêndio na floresta e castigou a serpente Käliya, que se encontrava no lago Yamunã, obrigando-a a deixar as proximidades do rio Yamunã; desse modo, Ele desenvenenou as águas do Yamunã. [PRABHUPÃDA - Histórias de Krsna p 26] |
INFÂNCIA E JUVENTUDE DE KRISHNA
O garoto cresceu entre os pastores de Gokula, relativamente afastado do mundo de corrupção e violência instituído pela perversidade do rei Kamsa.
Krishna era muito alegre, entretanto, cada vez mais freqüentemente, o "radiante" tinha momentos de profunda introspecção. Sua face ficava sombria e afastava-se de todos. Parecia preocupado com um dilema de difícil solução. Buscava o sentido de sua vida.
Por mais que a comunidade de pastores de Gokula estivesse relativamente à salvo de perseguições, o rei Kamsa continuava matando os homens santos e sua maldade se espalhava por toda a Índia. Aos 15 anos, Krishna, em um de seus afastamentos, teve uma visão.
Apareceu-lhe Vasixta, o mais sábios entre os sábios. Era velhíssimo. Envolto em auréola de luz, disse ao jovem: "O que procuras encontra-se junto àquele que nunca muda. Procura. Neste mundo, Tu degolarás o touro e esmagarás a cabeça da serpente. Filho de Mahadeva, Tu e eu formamos apenas Um, N'Ele. Procura-O. Procura sempre" — Vasixta abençoou Krishna e desapareceu.
LENDA & ESOTERISMO: A ASCENSÃO DE DEVAKI A biografia de Krishna, este relato de mais de 5 mil anos, tem pontos de contradição, onde lenda e fato histórico se misturam. Mas não se trata apenas de lenda e história, misturam-se também, realidade física e realidade metafísica. Como no episódio do nascimento: em uma versão, Krishna nasce da virgem Devaqui; em outra, nasce da união entre Devaqui e Vasudeva. De todo modo, entende-se que Vishnu, o Mahadeva, Grande Deus, serviu-se do veículo físico de Devaqui para nascer como o ser humano Krishna. A própria Devaqui, é um Deva, um Espírito Superior encarnado para servir ao Criador de Todas as Coisas. O destino de Devaqui também tem duas versões. A Devaqui que concebe virgem, foge. Com a ajuda dos Devas, ela escapa à sanha assassina de seu irmão, o rei Kamsa. Encontra abrigo entre os anacoretas, homens santos que vivem no coração da floresta, devotos de Vishnu, seguidores do guru Vasixta [citado acima]. Krishna nasce e cresce, até os 15 anos, ignorando tudo sobre sua origem. Conhece apenas sua mãe, Devaqui, a quem adora. Então, Devaqui "desaparece". Conta a lenda que ela ascendeu, subiu aos céus, em mais uma "coincidência" [?] com as histórias de Maya, mãe do Buda Sakyamuni, e Maria, mãe de Jesus. Em Os Grandes Iniciados [Schuré, 2003], Devaqui desaparece quando Krishna tinha 15 anos, ou seja, na época em que o avatar começa a sentir se aproxima o momento de começar sua missão. As depressões de Krishna são explicadas pela tristeza que lhe causa a ausência da mãe. Ele encontrará Devaqui mais tarde, em uma "visão" ou transcendência, nas "esferas celestiais": "Um clarão fendeu o céu negro e Krishna tombou por terra... Enquanto seu corpo se tornava insensível, a sua alma... ascendia aos espaços... " Krishna mergulhou num oceano de luz e Krishna viu Devaqui. Milhares de Devas vinham banhar-se no resplendor que irradiava da Virgem-Mãe... Krishna sentiu que era o Filho, a alma divina de todos os seres, a Palavra de Vida, o Verbo Criador... " |
KRISHNA, O GUERREIRO
Krishna e o príncipe Arjuna na batalha entre os Pandavas e os Kurus, narrada no épico Mahabharata
A aparição, as palavras do sábio Vasixta, iluminaram o entendimento de Krishna. Ele, que desde criança matara inúmeros demônios, salvando a si mesmo e a seus amigos, deveria, agora, combater para salvar o mundo. Voltou à comunidade e, reunindo seus companheiros, conclamou-os: "Lutemos contra os touros e as serpentes; defendamos os bons e esmaguemos os maus" [SCHURÉ, 2003].
Ora, Krishna era muito amado; Ele é o "todo atrativo"; assim, os pastores transformaram-se em guerreiros que enfrentaram tiranos e "libertaram tribos oprimidas" [Idem].
Khrisna foi vitorioso em todas as suas lutas porém não encontrava o sentido da vida e meditava nas palavras do sábio Vasixta.
Um dia ouviu falar de Calanemi. Soube que era o rei da serpentes e decidiu ir ao encontro do bruxo. Diante de Calanemi, pediu para lutar com o mais terrível dos monstros entre os que serviam ao soberano das víboras, a serpente Kâlyia: "...um enorme réptil de um azul esverdeado... o corpo espesso ...a crista vermelha ...o olhar penetrante ...a cabeça monstruosa coberta de escamas luzidias". [SCHURÉ, 2003 p 67].
[Krishna] Olhou a serpente e lançou-se de súbito sobre ela, agarrando-a por debaixo da cabeça. O homem e a serpente rolaram então pelas lájeas do templo. Mas, antes que o réptil pudesse enlaçá-lo nos seus anéis, Krishna decepou-lhe a cabeça com um golpe de seu alfanje e, desprendendo-se do corpo que ainda se retorcia, o moço vencedor ergueu na mão esquerda a cabeça da serpente.
Esta cabeça, porém, vivia ainda; olhava obstinadamente Krishna e dizia-lhe: "Por que é que me mataste, filho de Mahadeva? Crês encontrar a verdade aniquilando o que vive? Insensato! Ah! Não a encontrarás senão quando tu próprio agonizares. A morte está na vida, a vida está na morte... "
KRISHNA, MESTRE ESPIRITUAL
Impressionado com que a serpente dissera, Krishna abandonou suas lutas e voltou a Gokula. Ali, triste notícia o esperava: o sábio Vasixta morrera, assassinado pelo rei Kamsa. "Os anacoretas saudaram Krishna como o sucessor esperado de Vasixta" e entregaram a ele o bordão de sete nós, símbolo do poder espiritual.
Em seguida, Krishna retirou-se para o monte Meru [no Tibet, hoje] para ali meditar a sua doutrina e descobrir a via da salvação humana. Duraram sete anos as suas meditações e as suas austeridades. Passado esse tempo, ele sentiu que a sua natureza divina dominara sua natureza terrena para merecer o nome de filho de Deus. Só então chama a si os anacoretas, os moços e os velhos, a fim de lhes revelar sua doutrina....
Depois de ter instruído seus discípulos sobre o monte Meru, Krishna transportou-se com eles à beira dos rios Yamunã e Ganges, a fim de ensinar o povo. Entrava pelas cabanas e demorava-se nas vilas. A multidão agrupava-se à sua volta... O que ele pregava ao povo era, acima de tudo, a caridade para com o próximo. [SCHURÉ, 2003]
Enquanto isso, Kamsa, que continuava perseguindo os religiosos seguidores de Vishnu, ficou sabendo das aventuras de Krishna. O próprio bruxo Calanemi contara sobre como o herói cortara a cabeça do mais monstruoso réptil do mundo. Kamsa sabia, portanto, que o filho de Devaqui sobrevivera e, segundo a profecia, deveria matá-lo e reinar sobre Maturá.
O rei demônio vivia em estado de pavor. Quando foi informado que Krishna se tornara um líder anacoreta, ainda assim não sossegou. Ao contrário, decidiu que era chegada a hora de exterminar de vez aquela ameaça. Mandou um grupo de soldados prenderem o Mestre que pregava às margens do rio Ganges. Porém, os soldados, chegando ao rio, vendo Krishna, ouvindo Krishna, desistiram de seus propósitos e, ao invés de prenderem Krishna, tornaram-se discípulos dele.
Inconformado, Kamsa convocou seus mais notáveis guerreiros e designou que trouxessem o inimigo acorrentado. Mas também estes, ao escutarem a doutrina, retornaram ao palácio e disseram ao rei:
"Não pudemos trazer este homem. É um grande santo e nada tens a temer dele. Vendo o rei que tudo era inútil, fez triplicar os guardas e reforçar com cadeias de ferro todas as portas da cidade. Um dia, porém, ouviu um grande tropel nas ruas, gritos de alegria e triunfo". [SCHURÉ, 2003].
O povo tinha forçado as portas e Krishna entrava em Maturá. Seguiam-no seus discípulos e muitos anacoretas. A multidão aclamava o Mestre, os bramanes saudavam o filho de Devaqui, vencedor da serpente, o herói do Monte Meru, profeta de Vishnu.
Sem que nenhum obstáculo se interpusesse em seu caminho, entrou no palácio onde encontrou o rei Kamsa, acossado por seus próprios guardas, amedrontado; e a rainha Nixcumba, destilando seu veneno, enrodilhada num canto. Krishna diz a Kansa:
— Tu não tens reinado senão pela violência e pelo mal. Merece mil mortes porque assassinaste o velho Vasixta. Todavia, não morrerá ainda. Quero provar ao mundo que não é matando que se triunfa dos inimigos vencidos, mas sim perdoando-lhes. [SCHURÉ, 2003]
Kamsa e a pérfida rainha foram exilados sob a vigilância dos brâmanes. Quanto ao trono de Madurá, Krishna abriu mão, não queria reinar.
Entre seus discípulos existia um especialmente nobre, de estirpe e de espírito: Arjuna, um Pandava, herdeiro dos reis solares, opositores dos reis lunares, os Kurus, que dominavam a Índia naqueles tempos. Arjuna tornou-se rei de Madurá mas a autoridade suprema foi concedida aos brâmanes, sacerdotes de Vishnu, que formaram um conselho.
O conselho dos brâmanes foi instalado em uma povoação que Krishna fez construir para manter os líderes à salvo de perseguições. Esta povoação, chamada Duarca, localizada entre entre as montanhas, era defendida por uma alta muralha. Ali foi erigido um templo dos Iniciados, cujo centro ocultava-se no subterrâneo.
MAHABHARATA
A GUERRA ENTRE OS PANDAVAS E OS KURUS
A ascensão de Arjuna, um guerreiro solar, ao trono de Madurá, desagradou imensamente os reis lunares que governavam reinos e principados indianos.
Era um avanço dos adeptos da luz que não podia ser tolerado pelos devotos das sombras. Deflagrou-se uma guerra; Pandavas e Kurus preparavam-se para um sangrento combate.
Arjuna, líder dos Pandavas, contemplava a movimentação dos exércitos na planície. Seu coração estava apertado. Estava tomado pela tristeza. Era um discípulo de Krishna e tinha tomado horror às matanças, posto que todos os seres viventes eram filhos de Mahadeva.
Arjuna fraquejava justamente quando a luta estava prestes a começar. Neste momento, Krishna, que deveria estar em Duarca, apareceu para socorrer Arjuna em sua inquietação. O diálogo que se segue entre Arjuna e Krishna é uma das passagens mais famosas do Bagavad-Gitã.
O problema de Arjuna era ter de matar pessoas, muitas, conhecidas dele, outras tantas, parentes de sangue, todos seres vivos, filhos de Deus.
Apesar de Pandavas e Kurus estarem em lados opostos, havia entre eles complexos laços de família. Não seria, toda aquela violência, contrária a tudo o que ensinava a doutrina? Krishna dissipa as dúvidas de Arjuna apresentando a doutrina do Carma:
Eu e tu, e todos estes guiadores de homens havemos existido sempre e não cessaremos jamais de existir... Aqueles que vêem essa essência real, vêem a eterna verdade que domina a alma e o corpo. Sabe, pois, que o que atravessa todas as coisas está acima da destruição.
Ninguém pode destruir o Indestrutível. Tu sabes que estes corpos durarão pouco. Mas os videntes sabem, também, que a alma neles encarnada é eterna, indestrutível e infinita. Eis aí porque vais combater, filho de Baratha!
Os que crêem que a alma pode matar ou que ela pode ser morta enganam-se igualmente. Ela não mata nem morre. Ela não nasceu nunca nem nunca morrerá... Assim como uma criatura se desnuda de roupas velhas para se apossar e outras novas, assim a alma rejeita esse corpo para tomar outros. Nem a espada nem o cutelo a corta; nem o fogo nem a chama a queima... Duradoura, firme, eterna, ela atravessa tudo... [SCHURÉ, 2003]
Os Pandavas venceram a batalha que foi contata na aventura épica chamada Mahabaratha, um dos livros do Bagavad-Gita, o Canto do Senhor.
A MORTE DE KRISHNA
Estudiosos das escrituras hindus, comparando textos do Bhagavad Purana e do Bhagavad Gita, concluíram que Krishna morreu em 3.100 a.C.. Porém, a morte de Krishna, é envolta em mistério de renúncia e maldição.
Depois da Guerra dos Baratha, Krishna e seu irmão Balarãma estabeleceram-se ao sul da Índia, onde teriam fundado a cidade de Dwaraka.
Reinaram por 36 anos. Balarãma, como outros personagens lendários, não morreu; usando a disciplina do ioga, Balarãma transcendeu a corporeidade física alcançando as esferas celestiais.
Krishna, segundo o Mahabharata, retirou-se na floresta e mergulhou em meditação. Ali teria morrido em virtude de uma maldição proferida por Gandhari, que perdeu os filhos na batalha entre os Pandavas e Kurus. Ela culpava Krishna por não ter impedido a matança. Krishna, conformou-se com a maldição e morreu.
Na versão contada por Schuré, em Os Grandes Iniciados, Krishna escolhe morrer deixando-se apanhar em emboscada por arqueiros enviados por seu velho inimigo, o rei Kamsa. Kamsa, que escapara à vigilância dos brâmanes, refugiou-se junto ao sogro, o bruxo Calanemi e passou a tramar a destruição de Krishna.
O profeta havia compreendido... que para fazer aceitar aos vencidos a sua religião, seria mister conseguir sobre a sua alma uma vitória mais difícil que as das armas.
Da mesma forma que o santo Vasixta tinha sido varado por uma flecha [de Kamsa] ...da mesma maneira Krishna devia morrer voluntariamente às mãos de seu inimigo mortal para implantar no coração de seus adversários a fé que pregava aos seus discípulos e ao mundo. ...Partiu, pois, para uma ermida que se encontrava em um lugar selvático e desolado, junto aos altos cimos do Himavant [Himalaia].
Até então, Krishna, com o poder de seu Espírito, havia impedido os ataques de Kamsa. Em seu derradeiro retiro, o Mestre cessou de resistir.
Durante sete dias meditou enquanto seus perseguidores avançavam. Enfim, chegaram os soldados. Arrancaram o santo do êxtase, insultaram-no, apedrejaram-no.
Nada abalava Krishna. Então, agarraram-no, acorrentaram-no a um tronco de cedro [um madeiro] e prepararam os arcos. Foram três flechas: na primeira, Krishna chamou por Vasixta; na segunda, abençoou os filhos do Sol e na terceira, disse apenas: "Mahadeva!".
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCHURÉ, Edouard. KRISHNA.
Col. Os Grandes Iniciados, nº 2 [trad. Domingos Guimarães].
São Paulo: Martin Claret, 2003]
PRABHUPÃDA, Sua Divina Graça Swami. Histórias de Krsna — Ed. The Bhaktivedanta Book Trust | Sociedade Internacional da Consciência de Krishna [sem data]
_____________ O LIVRO DE KRISHNA
WIKIPEDIA ENGLISH — Krishna
WIKIPEDIA PORTUGUÊS — Krishna
IMAGENS: SIRIMAD BAGAVATAM