terça-feira, 15 de outubro de 2024

ENTERRADOS VIVOS

Publicado originalmente em 08/03/2013
Aconteceu em 1871, durante uma epidemia de cólera, na Índia. Mary Best tinha 17 anos quando contraiu a doença. estava sozinha no mundo aos cuidados de uma família adotiva. Sua mãe havia deixado o país havia já alguns meses. 

Mary sofreu horas de agonia, mal-estar, dores de estômago. Seu pulso foi ficando cada vez mais fraco até que o médico declarou-a morta. Algumas horas depois de certificado o óbito, ela foi enterrada no jazigo daquela família adotiva.

Naquela época, as vítimas de cólera eram sepultadas rapidamente para evitar a propagação do mal. Ainda mais no calor tropical da Índia, o enterro rápido era considerado uma providência necessária. Assim, ninguém questionou a pressa no procedimento.

Dez anos depois, o caixão foi aberto para que a sepultura pudesse receber o corpo do recém-falecido tio adotivo de Mary e naquele momento, o agente e funerário e seu assistente depararam-se com a horrível visão.

A tampa do caixão de Mary tinha sido deslocada. O esqueleto da jovem estava metade dentro, metade fora e seu crânio tinha uma fratura. Os dedos da mão direita estavam dobrados, como se ela tivesse tentado agarrar alguma coisa e suas roupas, estavam rasgadas.

Mary não estava morta quando foi sepultada mas, apenas inconsciente. Vítimas de cólera freqüentemente entravam em coma e foi neste estado que ela tinha sido dada como morta e enterrada. Pode ter acordado horas ou dias depois para um resto de vida em pesadelo.

Na época vitoriana, episódios como esse não eram incomuns como pode-se imaginar. Os métodos de determinação da morte estavam longe de ser confiáveis. 

Algumas pessoas tinham tanto horror de serem enterradas vivas que, em seus testamentos, exigiam que fossem tomadas medidas preventivas após o diagnóstico de morte.

Medidas tais como, cortar-lhes a garganta ou cravar-lhes uma estaca no coração.


Em um livro publicado em 1905 (Premature Burial: How It May Be Prevented por Walter Hadwen, William Tebb and Edward Perry Vollum, editado por Jonathan Sale, Hesperus - imagem acima) e agora reeditado, dois médicos relacionam macabros casos de enterros prematuros registrados em jornais de todo o mundo. 

Em muitos casos as vítimas poderiam ter escapado a esse terrível destino mas, não o foram, somente por causa do medo ou da incompetência dos vivos.
Em 1887, na França, um jovem estava sendo levado em cortejo fúnebre para sua sepultura quando os coveiros ouviram batidas que vinham de dentro do caixão. Com medo de criar pânico entre os enlutados, eles se calaram e continuaram os procedimentos. 

Mas, quando a terra estava sendo jogada sobre o caixão, todos puderam ouvir as pancadas. Ao invés de, imediatamente, remover a tampa, as pessoas mandaram chamar o prefeito. Isso demorou. Demorou o bastante para que o jovem morresse, de fato; por asfixia.

Houve outros casos semelhantes quando apesar dos indícios de que alguém estava para ser enterrado vivo, a demora de abrir o caixão na espera da presença de autoridades selou o destino dos desesperados. 

Isso ficava claro diante da evidência dos corpos retorcidos das vítimas, as unhas das mãos e dos pés lesionadas a a expressão de absoluto horror estampada naqueles rostos.

Muitas vezes, pessoas que temeram ou suspeitaram de enterros prematuros foram julgadas perturbadas, desvairadas pela dor, incapazes de aceitar a realidade da morte.

Foi o quê ocorreu em 1851 quando Virginia Macdonald, de Nova Iorque, foi sepultada depois de ter, aparentemente, sucumbido a uma grave doença. 

Apesar da insistência da mãe, afirmando que a filha não estava morta, a família prosseguiu com o sepultamento atribuindo as alegações da mulher a uma rise de histeria. 

Tempos depois, o corpo foi exumado e a garota estava deitada de lado com as mãos parcialmente comidas por ela própria, talvez por terror, talvez, por estar faminta.

Em 1903, na França, o mesmo aconteceu com um adolescente de 14 anos. A mãe, inconformada com o sepultamento apressado, protestou alegando que o filho não estava morto. 

No dia seguinte ao funeral, essa mulher foi encontrada cavando a terra da sepultura com as próprias mãos. Tentava alcançar o caixão. Enfim, o caixão foi aberto e o rapaz foi encontrado com o corpo retorcido. Ele tentou escapar mas foi vencido pela asfixia.

Alguns dos casos mais impressionantes envolveram mulheres dadas como mortas após sofrerem complicações durante a gravidez. A Eclampsia, não tratada durante a gravidez pode levar a convulsões e ao coma. 

Este parece ter sido o caso de Lavinia Merli, uma camponesa que vivia perto de Mântua - Itália. 

Ela foi enterrada em julho de 1880. Embora não tenha sido explicado porque o corpo foi exumado dois dias depois do sepultamento, descobriu-se que a jovem pode ter recuperado a consciência, virou-se no caixão e, ali, deu à luz uma criança. Ambos morreram nas trevas da cova.

Um médico de Berckshire (condado à sudoeste da Inglaterra) relatou a história de uma jovem mãe (havia acabado de dar à luz mais um filho), esposa de um oficial (militar) médico do exército estacionado nos Trópicos. 

Ela sofrera uma dor cardíaca grave após o parto e apesar dos esforços médicos, foi estabelecido o óbito. 

Os preparativos para enterro começaram a seguir mas os atendentes foram incapazes de fechar as pálpebras da mulher. Seus filhos acercaram-se do corpo para prestar as últimas homenagens.

Quando saíram, a enfermeira da presumida defunta começou a acariciar o rosto de sua paciente, a quem devotava verdadeira afeição. Então, percebeu um som de respiração e deu o alarme. 

Os médicos realizaram o clássico teste de colocar um espelho diante da boca da senhora mas não houve sinais de vapor. Abriram-lhe uma veia em cada braço, mas o sangue não fluiu. Assim, os preparativos do enterro continuaram.

Porém, a leal enfermeira não desistiu: aplicou mostarda nos pés da patroa e fumegou penas queimadas próximo ao nariz na esperança de provocar uma reação física instintiva. Finalmente, aquela que era considerada já um cadáver despertou do que tinha sido uma espécie de transe.

Reanimada, ela contou que tivera plana consciência da presença de seus filhos despedindo-se dela, de ter sido colocada no caixão mas foi incapaz de falar ou mover-se. 

Os médicos concluíram que ela sofrera uma paralisia temporária em conseqüência do parto.

Algumas pessoas que escaparam de serem enterradas vivas ficaram tão traumatizadas que jamais se recuperaram. 

Em 1879, uma menina, Sarah Ann Dobbins, de Hereford (Inglaterra), foi declarada morta depois de ter estado em "transe" (ou, paralisada) por três semanas. 

Ela foi preparada para o enterro e deixado trancado em sala durante a noite. Na manhã seguinte, seu corpo havia mudado de posição. 

Um médico foi chamado e a menina, foi reanimada. Quatorze anos depois ela cometeu suicídio atirando-se no rio Wye.

Cena do  filme O Assalto ao Trem Pagador, situado em tempos vitorianos, o caixão do personagem  Donald Sutherland tem um sino ligado para que ele possa tocar, se ele não estiver morto. O modelo do caixão assemelha-se àquele inventado pelo belga, o conde Michel de Karnicé-Karnic.

O medo de ser enterrado vivo era tão difundido que um belga, o conde Michel de Karnicé-Karnic, inventou um caixão com alarme. Esse alarme consistia em uma esfera de vidro colocada no peito do cadáver. 

Se o peito mover-se minimamente, a esfera rola acionando um sino e um dispositivo que projeta uma bandeira 1,20 m acima do solo. Além disso, um tubo instalado na boca do presumido defunto permite que o sepultado vivo possa clamar por socorro.

Mas, o alarme não teve sucesso. A esfera, muito sensível, freqüentemente emitiu alarmes falsos, provocados por contrações naturais do corpo recém colapsado. 

Enfim, para evitar esses macabros incidentes, na Alemanha, adotou-se a prática de deixar os cadáveres "em espera", em necrotérios, por vários dias antes do enterro.

Esse sistema mostrou ser mais eficiente. Os caixões eram deixados abertos e um anel, com uma corda presa a um sino era colocado no dedo de cada cadáver, para chamar a a atenção dos atendentes caso a morte fosse só aparente e a pessoa despertasse. 

Funcionou. Como no caso de um menino de cinco anos que acordou no necrotério e foi resgatado graças ao anel da vida.

O medo de ser enterrado vivo persiste até hoje e ocasionalmente é explorado em enredos de filmes. Esse medo não é infundado. Mesmo para os médicos atuais o engano, entre inconsciência, paralisia e morte é possível. 

Em 2007, um soldado nascido nas ilhas Fiji que combatia no Afeganistão, atingido por uma bomba, foi declarado morto.

Mas, quando seu corpo estava sendo lavado para ser colocado em um saco, os médicos perceberam que havia pulso. Foi diagnosticado estado de coma e ele foi levado para o Selly Oak Hospital, em Birmingham (Inglaterra).

Oito dias depois, recuperando-se, sendo que suas pernas tiveram de ser amputadas, superou a tragédia e representou a Grã-Bretanha nos Jogos Paraolímpicos de 2012. 

Vida e morte, são enigmas e a linha que as separa pode ser muito mais tênue porém decisiva do que é possível imaginar.

Em muitos casos, os cães perceberam o que os médicos ignoravam e insistiram em latir diante do caixão de seus donos, atacaram carregadores forçando-os a abrir o caixão onde encontraram o ocupante vivo. 

Como os animais podiam saber que aquelas pessoas ainda estavam vivas, é um mistério da Natureza. Meditemos...

FONTE
VENNING, Annabel. Let me out of my coffin, I'm still alive: New book reveals spine-chilling true stories of premature burial.
DAILY MAIL, publicado em 07/03/2013.
[http://www.dailymail.co.uk/news/article-2289355/Let-coffin-Im-alive-New-book-reveals-spine-chilling-true-stories-premature-burial.html]

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